Lágrima diz-me quem és e porquê

O coraçao treme com dor. E os meus olhos já só vêm as coisas que estão em frente desfiguradas, com as lágrimas a tornarem inacessível a visão clara.
E as minhas mãos apertam o lençol branco até ficar enjelhado, é a raiva, e acariciam de leveas lágrimas, imaginando que é a mão de outra pessoa, ou imaginando ainda que,a lágrima é o motivo personificado - em carne e osso, que originou o choro, querendo compreendê-lo e ser até amiga dele. As nódoas negras, as olheiras,vão-se afirmando e encostando debaixo do meu olho.Cabeça, tronco e membros, vão-se fechando, como as tulipas fecham ao escurecer, vão-se encolhendo como o caracol ao entrar para a sua carapaça, como uma fotossintese deslocada e inversa das borboletas, não diverge, converge. O rio só sabe correr pela colina abaixo, e vai desaguando, refrescando as minhas margens, pudera refrescar-me a alma ou roubar-ma. Molhar a raiz dos meus cabelos, ficarem naturais ... Choverem nos meus lábios, regando as plantas que querem crescer e desenvolver - são as palavras. Tornarem-se mais adultas.
Escorregar pelo meu pescoço, como o teu beijo perigoso que me faz sentir que tenho que fugir e escapar. Decifrar os meus lugares mais " obsenos" e mais inacessiveis, o seio do rio. Contornar a minha bacia, quase se desfazendo a lágrima ... Não foi sugada pelo umbigo. Retoma viagem até. . .ao destino - a terra; o lençol;o lavatório; os paralelos da rua; a superficie do rio perdendo-se nele;o baloiço - cronologia de recordaçoes passadas, a infancia;o prato do pouco apetite;a varanda - cai-lhe tão bem a noite estrelada ...o reflexo da lua emdiabrada por raiar magia... Os seus raios transportam fragmentos de brilhantes celestes; o som de uma cítara; de um cravo; de um violino;do mergulho das ondas do mar da ilha perdida.
Uma vez eu corri para ti, agora eu correrei de ti.
Maria